terça-feira, 6 de julho de 2010

Fim de papo?

‘Oi, tudo bem? Você está muito ocupado agora? Queria ver se tem alguns minutos porque eu gostaria de ter uma conversa com você... Pode ser? Então senta aí, fica confortável. O papo é sério, mas acho que te interessa muito também. Bom, melhor falar logo de uma vez, né?! Sem rodeios, sem firulas... O que eu tenho para dizer – e espero que você não me leve a mal – é que a nossa relação está um pouco desgastada. E quando falo “nossa relação”, não falo só da gente, eu e você, não. [...] A “nossa relação que eu digo é a relação interpessoal, os relacionamentos humanos. E esse desgaste tem a ver – e é isso que eu estou tentando dizer desde o começo – com uma crise na nossa comunicação, na nossa dificuldade de dialogar com as pessoas. Pode reparar: vivemos em um mudo em que os povos não se entendem, em que dentro da casa as pessoas perdem a interação, em que colegas de trabalho não conversam sobre as tarefas do escritório e até as relações diplomáticas estão afetadas pela carência de uma melhor comunicação. Enfim, está faltando diálogo! [...] Afinal, nosso bem estar e nossa felicidade dependem de nós, mas também das pessoas com as quais nos relacionamos e com o mundo em que vivemos. E o diálogo que estabelecemos com esse mundo e com essas pessoas é imprescindível para nossa qualidade de vida. [...] Claro que você não precisa concordar com tudo o que eu disser, mas, só de ouvir o que tenho parar falar, já tenho certeza de que a nossa conversa vai valer a pena. A verdade é que as pessoas têm necessidade enorme de se comunicar, de conversar. Falar e uma necessidade orgânica dos seres humanos – das tribos africanas aos palácios ingleses. E essa interação que o diálogo nos propicia é uma característica exclusivamente humana. [...] Cientistas do comportamento teorizam que passamos 80% das nossas vidas em companhia de outras pessoas e entre seis e doze horas todos os dias falando com elas. É um tempo considerável, não? [...] Afinal, precisamos pensar para falar (pelo menos, na maioria das vezes) e nosso empenho para que a outra pessoa nos entenda através de idéias claras também ajuda o nosso próprio entendimento. [...]( e não é esse, afinal, o princípio básico da terapia? Dizer a seu terapeuta para dizer a sim mesmo?). [...] “Ainda hoje o contato físico é a primeira linguagem que aprendemos”, diz Decher Keltner, professos da Universidade da Califórnia. [...] “ E ele continua sendo nosso meio mais rico de expressão emocional.”[...] Hoje vivemos numa sociedade que dá um peso enorme para as palavras. E, numa época em que nos comunicamos quase exclusivamente através delas (em e-mails, mensagens de texto, redes sociais), não percebemos que elas não conseguem sustentar uma conversa sozinha. [...] Mas não bastam para uma conversa franca.
Muito mais que palavras
A conversa tal qual a conhecemos, na sua definição, é aquela que acontece quando duas (ou mais) pessoas estão frente a frente e se falando. Isso porque ela envolve a linguagem corporal, os feromônios que invarialmente emitimos, os gestos, as expressões faciais, o olhar, o toque. Não é apenas abrir a boca e soltar palavras; é muito mais do que isso. “ A conversa quase sempre contém informações pragmáticas e expressões puras de emoção. É uma arte humana de grande importância produzida pelas pessoas em todos os cantos”, define o jornalista e escritor Daniel Manaker. [...] Se, para estabelecer conversas mais significativas, precisamos reaprender a forma como falamos, imagine quando nos deparamos com meios de comunicação que são totalmente novos. Não é de estranhar que estejamos tateando para fazer ajustes na forma como nos comunicamos por meio do e-mail e das redes social. John Freeman, o editor da revista Granta, acredita que é a velocidade que estamos nos comunicando que está prejudicando nossas relações. Como as mensagens, os e-mails, os chats estão cada vez mais rápidos, nós nem sequer damos muita atenção ao que escrevemos. Mal começamos a digitar e logo estamos lá, apertando “Enviar”. [...] Falamos com 50 amigos por dia online, mas com quantos deles batemos um bom papo? [...] a importância de prestar atenção no que ouvimos ou falamos, de pensar em cada frase que escrevemos. [...] “ A comunicação é algo muito anterior aos meios de comunicação; eles têm de ser visto como acessório, não empecilhos” , afirma a cientista social Heloisa Pait” – Vida Simples, edição de Maio de 2010.
A sua comunicação não passa do virtual? Esforce-se, ligue e combine de ir tomar um chimarrão com seus amigos!

Fiquem com Deus, Fernanda Jansen

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